quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Observando-a Bailar

      "The dancer by Magdalena Zagórna"


Nem cem amigos podem preencher o vazio de um peito que disse adeus a um amor. A face seca e sedenta sofre se perguntando o que está acontecendo em seus olhos, buracos negros que nem mesmo a luz deixa escapar, contudo não o amor, força escrava só de si. E a língua de mármore, que espanca os ouvidos ao sibilar trevas, queima com o sangue ácido escorrido daquele coração embrenhado pelos vermes nascidos do vácuo emocional que compõe o cerne da alma afogada em desamor. No topo da colina, observando-a bailar no vale, esculpindo-se num manto que no corpo dela seja de caimento perfeito... Se não fosse a névoa do alto da colina, que todas as formas do vale distorcem, há muito tempo sobre ela estaria dançando. O rosto dela rasga o seu e é por receio da dor que prefere encarar a terra, e quando ele se esquece de tal maldita condição e a face ergue em busca da dela, é invadido por alegria e tristeza, e o coração pranteia em êxtase e agonia. Ressentido vocifera contra aquela maldita arte pela qual sua flor foi encantada e dele para longe levada, ao mesmo tempo deseja dela aprender para assim seduzir também sua flor como antes por vezes ela fora. Os portões foram abertos e, quem quiser entrar, que entre sem pedir licença e satisfação dar, e que venham no intuito de ferir, arrasar e abandonar, pois só uma dor maior pode anestesiar as queimaduras deixadas pelo iceberg solitário que brotou de seu peito. Apesar de tudo, o que faz o sangue ainda correr em suas veias e não delas é a esperança ao saber que nada é eterno, e a mão que agora  a conduz um dia há de solta-la e desta vez será a dele que ela segurará, ao menos é isso que ele espera, é o que ele sonha todas as noites, é o porquê dele se erguer todas as manhãs, é o porquê dele se alimentar e nutrir seu corpo, é pelo que ele ora e atormenta os anjos, é pelo que ele ainda vive e se esconde da morte.