segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

A Um Passo do Abismo



"Lead the Blind by Christopher Reach"
                                              
    Sobrepondo todos os desejos com angústia. O mundo é daqueles que mais desejam. Deitado a beira do rio esperando a terra tremer e me jogar lá dentro. A correnteza me levara para campos sem donos, onde erguerei meu castelo. Passo após passo, o céu me acompanha e a terra foge de meus pés. Estará ela mandando-me voar? Lá naquela vila, há um homem que cavou as tumbas de todos, mas seu corpo pereceu coberto por folhas debaixo de um ipê. Quando repleto de fome bati à porta, ninguém abriu, se eu não tivesse partilhado meus pães com os mendigos das estradas, não seria eu mais um deles. Seria meu lado tolo falando mais alto, ou seria outra coisa? Bela moça, conheci e por ela me apaixonei. Fui apoio em caminhos íngremes e abrigo em noites chuvosas. Sentados no vale estávamos, ela disse: estou com sede. E, eu de regresso do rio disse: estou de coração partido e alforje vazio. Assim é a vida e eu não me surpreendo mais com nada. Lágrimas. Não tenho mais. Revolta. Estou seco disto. Esperança. Estou cansado demais. Vago pela estrada empoeirada, onde o vento que me empurra é meu guia. Em minha face um olhar, um olhar sem ires e pupila, desejando um mau dia para os outros viajantes. Dezenas de campos sem donos eu transpus, pisei naqueles que poderiam dar-me a felicidade, mas não consegui senti-los. Meu destino leva para um abismo de morte e neste transe deitarei na tumba cavada pelo corpo do ipê e nem sentirei a terra caindo sobre meu peito. Em que lugar tropecei, onde esta a pedra que me levou para este estado. Atrás de mim, sorrir uma sombra. Ela foi quem me negou ajuda, quando faminto. Ela foi quem me disse para não mais caminhar e me deitar a beira do rio e esperar pela boa fortuna. Ela foi quem escondeu o corpo do homem em baixo do ipê. Ela foi quem levou de mim a moça amada. Mas a culpa de estar cego é minha, apenas minha. A sombra pôs a pedra em meu peito e eu aceitei de braços abertos. E com mais esta prova de que minha alma é fraca, mastigo toda esta angústia. A um passo do abismo da morte, volta à minha face uma derradeira lágrima de súplica  a alguém que possa puxar-me de volta neste último instante.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Para Vencer ou Morrer

                                    "Ode to Amipal by Lotta Tjernström"  


   Ele olhou profundamente seu inimigo, que empunhava firmemente a espada prateada enquanto o vento tremulava sua capa e seus longos cabelos. Porém, ele não se intimidou perante o vigor e a confiança do inimigo. Pegou seus dois punhais e partiu para ao ataque com o espírito em fúria e força. Enquanto corria pela campina manchada de sangue dos combatentes: amigos, companheiros e inimigos, a cada passo que dava incendiava as folhas secas que estralavam e soltavam fagulhas. Muitos confiaram a vitória a ele, vencendo ou perdendo ele sairia daquele campo com uma divida de vida para muitos, porém não poderia pagar nenhuma, já que todos estes se sacrificaram para ele continuar na batalha e vencer. Suas adagas cortavam o vento e emanavam um brilho sobrenatural, como se os espíritos de todos os aliados  estivessem também erguendo aquelas lâminas. Sua respiração era ofegante e seu corpo veloz deixava no ar gotas de sangue que saiam de inúmeros cortes. Enquanto o outro estava firme, somente com a espada manchada de vermelho e mais nada. O inimigo perante a investida firmou seus pés no chão como se fossem profundas raízes, e colocou-se em posição para deferir seu mais rápido e letal golpe, seus olhos eram intensos e nesse dia congelaram a alma e o pulso de muitos infelizes, que na lâmina prateada encontraram o fim. Ele posicionou suas adagas e soltou um grito que surgiu de seu âmago, rasgou sua garganta e, de tão alto, fez todas as aves carniceiras fugirem. As energias dele e do inimigo se chocaram, uma tentando destruir a outra, buscando forçar joelhos a dobrarem e congelarem de medo. Entanto, esse sentimento já não influenciava em nada os espíritos desses ferozes combatentes. Com a aproximação, ele deu um grande salto e do alto desceu como um raio de ardor lançado pelo espírito da batalha, e seu inimigo ainda firme deferiu seu primoroso golpe, pois estava pronto para vencer ou morrer.

Carola

"Heart of Deamon by Cassandra Verret"
           
   Um relâmpago belo e grandioso iluminou as nuvens onde escondi meu coração. E, nas noites de inverno, conforto-me nas teias de seda que Carola, minha aranha amada, deu-me antes de morrer comida pelo Rato da Ingratidão. Todos viram e se espantaram com um coração rochoso que vazio jaz nas nuvens da eternidade. Oh, belos cravos! Adornai minha cabeça, para que os pássaros possam fazer seus ninhos, assim terei uma mente guardiã da liberdade e dos sonhos impossíveis. Quero voar para buscar o que meu peito anseia, pois a cova sem fundo cavada aqui há de me consumir. No encalço da felicidade busco outra Carola, pois a minha teia de seda precisa de remendos e eu de alento em noites nefastas, quando pesadelos gerados por erros desgraçados meus teimam em voltar para esse contínuo tormento. Ai de mim, sem ti! Sem teus oito braços a me rodearem, sem teus dezoito olhos sempre a me admirarem. E, em ti sou mosca prateada em fio de seda. Como eu queria ter uma Carola a me beber o fluido sangue, fico esperando o vento me trazer algodãozinhos do campo e hei de recolher-los para forrar o nosso leito ao lado do rio que cruza o mundo e sempre nos trazia cestas repletas de frutas. Amarga ilusão de doces momentos que não se repetirão nessa vida varejeira, mas te almejar insanamente é meu vezo. Esses momentos deliciosos, eu sei que jamais voltarão, e é por isso que deixei meu coração escondido nas nuvens, longes de qualquer aranha Carola. Por certo, percebo agora! Que perigo lá ele corre de encontrar o papo de belo pássaro. Não há lugar seguro para ele se não embaixo da terra, sepultado próximos aos vermes sem coração iguais a mim.