quinta-feira, 24 de março de 2011

Cortesia dos Céus


"Can´t stand the light by Natascha Roeoesli"
 Clamores! Pela cortesia dos céus, bradamos. Descendo em nossa carne um doce ardor que lava alma e nos faz pensar o quanto nos resta de tempo, de tudo. Sei lamentar e nada vai adiantar, ou é apenas isto que nos falta revelar: por onde sorver a liberdade sacrificada. Não, não, não. O dia dos santos chegou, e deixado para o coro das sombras meu cerne revolto ruge! O Pendulo rachou ao bater na porta, e meu peito se abriu em suicídio jogando meu coração no chão. Se jogue em meus braços, eu te protegerei. Não chore, eu te darei alento. Confie em mim, você não tem mais ninguém. Mentiras! Decepção... Meu tempo se foi, me diga como eu me sinto até não mais poder ouvir, até não mais poder suportar e nem poder acreditar. Sim, sim, sim. Só vou sorrir e sorrir, dessa formar lembrar de tua mão acariciando as nuvens, vindo sobre mim o som de tua voz que vibra além do firmamento e apunhala minha alma! Deixe-me perder, e tudo cair em mim, me esmagar, me oprimir para sempre e sempre em ti. Ridículo ensejo me foi jogado na cara, e eu dei a outra face para uma mordida letal de teu maldito beijo! Dai, dai, dai. Até não me sobrar mais nada, e sem tempo nada mais me é tão valoroso. Desejo o tempo para tocar meus sonhos e me inundar de esperança, lançando-me para longe dessa prisão, guiado por um anjo, engolindo o mundo. A razão da miraculosa verdade está escondida é incompreensível para minha pequenez, mas mesmo ao longe ela escava meu leito e me leva para o meu delta. Mas o tempo acabou, estou seco, ou quase, já que meus pulmões estão repletos de sussurros clamorosos. Suplicai, suplicai, suplicai. Por um momento de amor que despenca do céu arremessado pelos anjos arrasando comigo. O quê resta nem a terra há de querer comer. Eterno é meu nome para ti e além de ti, sei que pode senti o ardor de minha presença incomoda, mas não vomite. Eu cuido daqueles que cuidaram de mim, mesmo que tenhas me abandonado iludido e repleto de saudades, sei que um dia te possui! Ou foi o contrário? Agora a porta está aberta, e por mais que corras, não me podes alcançar. Agora sou eu que te abraço, e em mim tu fluis. Amai, amai, amai. Apenas com um simples gesto despretensioso, a lua sobrepõe o sol, e se deixa admirar. Seu louco desfeito, girando ao meu redor exalando instinto, pirando como se não houvesse outra oportunidade de mais uma vez assim ser. E banhado pela cortesia do céu, me deito com os anjos e em gozo contemplo inocentemente você passando impiedosamente por aqueles que um dia eu fui igual. Por fim, suspiro pensando, se em quanto em ti, soubesse do que sei hoje, Não mais Suplicaria, e Sim Daria Amor.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Rumo ao Horizonte!


"Kuglimz Lancer by Jeff Lee Johnson"
   Pelo pêndulo que marca a cadência frenética do vale de Isabel, todos nascem. Veja o nosso mundo, este é o nosso estilo. Os tambores e os guizos vibraram ao som da flauta e aos acordes da veloz guitarra. Esse é o nosso som, se entregue a melodia do piano e você será mais feliz. Corra através dos campos encantados pela doce melodia de Nafta, e voe baixo por entre as árvores. E, quando chegar ao templo do precioso sagrado sangue, as divas da inspiração irão encantá-lo. Em seu cavalo branco adentre os portões da Dama Azul, que lhe espera com o calor arrebatador do Amor. Vitória, você voltou vitorioso e derramou sangue daqueles que são terríveis. A vida é uma bela obra de onde você irá combater as sombras. E, um dia tudo será magnífico na vida dourada, no vale de Isabel ao lado da esplendorosa Dama Azul. Então, lute pelo seu amor, vença a guerra contra a terrível dor, destrua a legião inimiga. Depois com os outros cavaleiros volte para casa, onde o amor espera para ser libertado. Nos Vales de Isabel, as árvores são mais verdes e o céu é de infinito azul. Com virtudes adquiridas durante o caminho que leva ao vale receba por justiça as palmas dos camponeses, e ouça a sua música, cantada pelas donzelas do castelo. Festeje, sei que você merece. Cante, você merece. Dance, você merece! Toda dor será paga com amor, toda piedade com admiração e toda a bravura com a felicidade de ser um grande patriarca do Vale de Isabel. Treine seus filhos e netos para que eles possam ouvir o canto de nossos pássaros e, assim, se inspirar para as lutas em busca do vale deles. Escute o som! Una-se a melodia do mundo! Vibre com a energia da vida! E eu juro que ninguém poderá deter-te, quando tu caminhaste  rumo ao Horizonte!

quarta-feira, 16 de março de 2011

Dama de Gris


"Varda Elentári by Maija Pietikäinen"

   Pelos idos de uma vida ignorada, divago na divisa de um mundo não mais meu. Nesse buraco azeviche, eu saboreio as lagrimas desse dom incompreendido. Gentil me era a Dama de Gris, mas onde ela está agora? Sinto falta de sua proteção durante a passagem para o mundo onírico. A hoste devastadora tenta-me estilhaçar, procuram minha dor. Doentes são e, apesar de tudo, nada mais. Busco um lume que me leve para onde habita meu brilho de inspiração. O entalhe do progenitor deixou-me a bela insígnia do Senhor do Reino do Inanimado de Essência Ambulante e Difusora de Ânimo. O Alquimista do elixir da longa noite transforma tormentas em doces baladas ternas de sonhos eternos. Meu pensamento torna o mundo de cá ínfimo aos olhos do espírito. Meus sonos buscam uma ilha além do céu e do inferno, onde os anjos são apenas anjos e o tempo humano não principiou. Macero minha imaginação buscando até a última gota de êxtase. Assim, fluo pelo mar do entendimento vendo além das brumas do ceticismo. Libertando-me dessa estase mental, bebo desse rio amalgamado que é a vida além do véu da ilusão do chamado real. Cheio e fluente de tudo que me é bom e me ascende ao amor imortal, divino e universal. Mergulho no inverno de minha alma e faço lá brotar relva verde. Essa vida acende meu espírito e como grande obelisco de fumaça minha imaginação alcança o céu. Seja o meu equinócio da vida e da morte um momento eterno equiparado ao desejo de deus de amar os homens. Navegando numa esquadra de nuvens, viajo por estrelas de diamante, antes grafite fora do papel. A melodia que os ventos cantam é muda aos meus ouvidos, mas meu peito vibra cada nota do bom destino. Era sobre era, meus ramos abraçam o mundo e abaixo de mim só há luz, nunca sombras. Mil livros escrevi, mil vidas narrei, mil vezes morri e após todas elas ressurgi para encantar um novo alguém. E para sempre abdiquei da minha terra natal mudando-me para um mundo tão belo e leve quanto uma gota de orvalho no fundo duma tulipa.

terça-feira, 15 de março de 2011

Por Vetura é Só Disso que Preciso

"Lost In You by Rachel Anne Marks"
        Embriagado pelo fascínio de te contemplar, busco em vão sobreviver em minha rotineira solidão, mas não posso mais voltar atrás em meus sentimentos. Resta-me seguir avante, deixando meu coração afogado nesse oceano represado pelos teus lábios. E, assim, meu corpo choca-se contra teu toque, com minha alma rendida pelo êxtase de tua pele estou à mercê de tuas vontades. Tudo isso me faz ascender acima das nuvens, a um passo das estrelas, às portas do paraíso e além! Se a morte é a única certeza em minha vida, então tu és meu sono eterno, pois tudo além de ti não é nada mais do que o improvável. Sem ti recaem sobre mim todos as angustias desse mundo, a dor é o espaço que há entre nós, a depressão é o tempo entre deixar de ti ver e te ver novamente, e as trevas são nada mais do que tua ausência. E o riso que escapa de ti reverbera dentro de mim e faz meu peito pulsar tão potente que até a tempestade se cala admirada a fim de nos escutar. Em juras me perco eternamente para que tu me aches para todo sempre, e se me deixo cativo do teu amor é para ser liberto das correntes que havia tecido ao meu redor. A brisa carinhosa de tua respiração tão próxima de minha boca é como tormenta que me traga para as profundezas de tua alma, a pressão de teu corpo contra o meu incendeia os pilares de meu mundo que desaba como torre de cartas, o sussurro de teus desejos em meu ouvido transgridem os limites de minha sanidade, restando apensa um pobre louco, que só acredita numa só realidade: teu nome. Por ventura é só disso que preciso para trazer ânimo a esta casca que carrega o reflexo de tua alma. Não és minha metade perfeita, és-me inteiro, pois senti nada sou. Pois é quando me arrebatas com um sorriso que eu me sinto puro, é quando me contagias com teu cheiro que me sinto seguro, é quando me domas com tua voz que me sinto potente e é quando me alcanças com teu amor que vislumbro o sentido de viver.

quinta-feira, 10 de março de 2011

O Livro


"Smiling jackdaw by Svenja Hildebrandt"
    
    O livro foi aberto e eu não posso ler, meus olhos foram bicados pelos corvos e meus dedos queimados pelo gelo. O mundo é tão belo quanto uma lixeira pode ser. A vida nos leva a lugares não compreendidos e nós aceitamos sem mudar nada. Sou a brisa tóxica dos esgotos, a chuva ácida das metrópoles e a bactéria carniceira. A praga que molesta a boca amaldiçoadora. Insanamente olho para meu presente e só penso em mim e no meu valioso pasto verde que rumino sem parar. O depois não é meu, logo voltarei ao pó, e que meus descendentes se danem. Sou o sol radioativo, o câncer dos vivos e o abrigo dos mortos. Sou intenso e egoísta, sou poderoso e inconsequente, sou minha vida e a desgraça dos outros. Nunca faço algo por ninguém, eu sou alguém e o resto é nada. Cantarei minha própria melodia e dançarei no meu tablado, a apresentação é minha e sou eu que vou brilhar. O livro foi aberto e o li em um segundo. Compreendo os meus desejos e as necessidades dos outros. Sou mais um dentre muitos, e me alegro em ajudá-los. O passado, o presente e o futuro são minhas obras-primas grandiosas e perfeitas. Não me chamem por amparo, pois ao teu lado já estarei sempre, teu bem é meu bem, tua vida é minha vida, tua riqueza também. Sou o ar de teus pulmões, o sangue das veias, o calor da vida, o sorriso da face, a mão no ombro e o passo de teu caminho. Sou a fonte de vida e sou perpétuo na tua vitória. Serei lembrado e amado por ser bom, e ascenderei eternamente por entre tuas alegrias. O livro continua fechado, sua capa é bela, mas está lacrada. Não devo e nem vou romper e olhar seus segredos. Sou sombra, sou insensível. Passem por mim e deixei-me aqui. Estou em paz, estou bem, pois sou ilha solitária, espectador passageiro por esse mundo. Sou preso a rotina, que apaga meus rastros. Tenho os pés de pluma, a voz sibilante, sou o vulto do mundo e do tempo. Morrerei no presente sem parentes no futuro.

quarta-feira, 2 de março de 2011

De Volta Para Quem Me Espera

"Dreaming Tree"
    Não me espere. Nem eu sei, quando irei voltar. As Árvores estão velhas demais para serem verdes e eu, lançado ao Vento, como poderão elas me alcançar? Grande Ladrão não queria vim, mas aqui está e, além de roubar a chave do Portão, não mais quer sair. Retornando para o quarto escuro, busco salvação na dama sem rosto. Ela mostrou três portas, cada uma levando para três mundos e cada mundo me reserva três destinos. Porém somos dois, eu e o Ladrão, iremos juntos ou não? No caminho escolhido sangrei em seis espinhos, bebi da quinta culpa, chorei nove mil lágrimas de arrependimento e meu mundo diminuiu, porém me restando o perdão, a confiança, a coragem, a mansidão, a humildade, liberdade e o amor, sendo tudo isso o bastante para mim. Já o Grande Ladrão ainda está no quarto escuro e a chave roubada caiu de suas mãos, tombando e girando veio até meus pés para que eu reabrisse o portão do mundo. Agora, vou embora e o deixo para trás, não sei por que o trouxe, mas ele veio por minha vontade e, assim, fui responsável pelos erros dele, que agora eu concerto. Sou tão velho quanto as árvores sem cor, tentando agarrar os jovens, que levados pelo vento, flutuam acima da minha copa. E, cada um segura pela mão seu Grande Ladrão e pelo coração uma semente para a renovação. Sendo que eles são os únicos responsáveis por fazê-las brotar no momento mais profundo, escuro e fértil da alma como ocorreu comigo. Amanhã o sol será eterno mais uma vez e sob ele crescerei nutrido profundamente pelas sete dádivas. Embaixo dessa casca cinza, grossa e marcada brilha como ouro uma seiva que faz brotar folhas em um mundo além da nossa visão. Enquanto aos frutos, compartilho com meus iguais e com aqueles por mim desejados para serem mais um de nós. O vento sopra e leva os jovens cada vez mais, contudo é em mim que espero seu toque forte. Um que me leve para baixo de volta para quem me espera.