domingo, 25 de dezembro de 2011

Damas da Tormenta

"The Rain will Kill Us All by Brooke Frederick"


    Soltando as amarras que me inibem, prendendo as Mãos que me agarram. Meus pés deslizam por sobre poças de lama formadas pela Chuva que me lavou, e me livrou dessa Maquiagem Medonha. Mais fácil seria o mundo curvar-se em resignação por tanta rigidez encontrada em mim, mas apenas seria, pois tudo que conquistei foi a ruptura de Minha Pele. Foi tombando que senti a brisa em minha face, rejeitando o iminente encontro com a terra, gritei em desespero e arrependimento. Nesse instante os Portões foram abertos. Por quem? Não por mim, eu apenas proferir clamores! E meus pensamentos vagam e chocam-se de encontro com a Piedosa, sendo apenas o Eco úmido e distante quem retorna para fazer-me caricias, mas é o quê me basta! O mundo estremece com a Alvorada, matando as sobras, revelando a verdade! E tudo o quê ela disse me curvou, jogando por fim meu rosto na terra. Ó Impiedosa! Por que me punes apesar de meu pesar? Por que me diz que as Mãos ainda jazem sobre mim, cerrando meus olhos. Com o engodo desejado agora revelado me apresento contrito e nu, já que agora, Piedosa, tua água não me toca, nem me lava. E minha Casca secará, rachará e tornar-se-á pó perante teu sol, Impiedosa, e não sem sofrimento, e não sem dor. Mas prometo que jamais me desesperarei novamente e nem desejarei mais uma vez que Anfitriã Sombria me iluda e me amarre nas trevas que me confortam, pois sei que um dia o vento há de limpá-la e tornar Minha Pele pura para que eu possa andar errante e livre a fim de alcançar os merecidos Portões. O mundo ensurdeceu com o retumbar dos trovões, quando os oceanos precipitaram o dia se afogou, a correnteza, a verga da tempestade, me sequestrou em quanto moldava sulcos nos vales que habitava, e o relampejar trouxe a restauração das sombras. Ó Piedosa! Os Portões não te represam, e na correnteza flutuando sem dor me levaste acima deles de encontro as trevas doces do infinito. O mundo estremece com a Alvorada, e os céus respiram os oceanos de volta e a Piedosa me caça. A Chuva e a Alvorada em fusão me consumindo, quando vou me absolver, quando vou me libertar, quando vou me cansar de ser inerte? Não quero compaixão e nem penitência, afastem-se de mim, ó Damas da Tormenta, as minhas desgraças são cortes que sagram apenas na Minha Pele. Eu me jogarei ao chão e me erguerei, destruirei eu mesmo essa casca que me sufoca e arrancarei uma por uma as Mãos que me restringem. Merecendo eu ou não, os Portões se abriram e caso não abram farei com que se curvem perante mim, nem que isso dilacere Minha Pele!          

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Ela...

"Walk to the Sunset by Rhiannon Mytherea Taylor"

Ela começa entre os pilares de sustento do mundo, e trilha o caminho do vento por lugares onde manadas de búfalos e ratos passaram. À noite ela é estrela esguia levando os navegantes da terra pelos sete vales, ao dia é caminho do sol de leste a oeste, onde o potro nasce e o cavalo morre. Atravessa rochas, circunda montanhas, salta rios e escava a terra, nem céu e nem mar barram seu caminho que transcende o físico e transpassa o etéreo mundo dos sonhos. Legiões por ela marcharam, em barreiras e batalhas lutaram para com o sangue lavá-la. Ela leva o homem a céu e ao inferno, e a mundos há muito esquecidos, perdidos ou renegados. Flui como Nilo no deserto, ou como o Amazonas na floresta, quando tortuosa e delgada é perigosa, e quando larga é tranquila por entre chapadões recobertos de árvores que se curvam a sua margem. Transpõe mil lugares numa só linha contínua que nem a tesoura do tempo e do espaço pode romper. Foi traçada no início dos tempos pelo mesmo dedo que ligou o interruptor do sol e com um peteleco fez o mundo girar. Por ela passeiam o corpo, a alma e a mente de mãos dadas com passos velozes em perfeito compasso, transcendendo a vida, a morte e a ressurreição, levando às novas cidades ou às prisões abissais. Alguns podem viajá-la com um passo, outros necessitam de todo o tempo do mundo. Poderosa e disputada, alguns querem dominá-la, e quando pensam que a tem em mãos, percebem que é apenas um trecho tão curto quanto são as linhas dessas mesmas mãos. Todos nela já andaram, andam e andarão. Mesmo pelos ares ou pelos mares, é caminho de todos os homens, animais, demônios e deuses. Leva ao infinito, circunda as galáxias por baixo das pernas do colosso e finda entre os martelos que rompem os pilares do mundo.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Penas do Tempo

"Romantic Agony by Nadia Asserzon"
Penas e Pedras

Ando sobre penas e pedras. Por todos os senhores do vale dos meus sonhos esquecidos, juro que sou justo para com meus sentimentos. Sou livre, pois sangrei nas pedras e limpei-me nas penas. Ao sangue de meus pais, paguei o tributo que devia. Minha resposta as perguntas que me ferem é meu eterno semblante feliz. Pertenço aos meus instintos com orgulho, já que eles sempre me levam para o melhor da vida. Dia após dia, procuro o portal que sempre me leva para o mundo que somente eu posso entrar e lá sou tudo, menos eu mesmo. E pelas penas e pedras escrevo para o garoto que mora no fundo do abismo, dorme no leito do lago e enamora a Lua. Nessa constante batalha para ser reconhecido como um alto membro dos guerreiros dos campos perdidos da Grécia, sustento meu Símbolo na torre e desejo o Sol, Não a Lua. Prometo a todos que sempre seguirei o Caminho do Andarilho de Penas e Pedras.

Teias do Tempo

Primeiro dia de vida, primeiro momento de morte. Azar a quem tem sorte, desejo divino do dia e da noite dos navegantes dos sonhos fluentes ao vento. Flautas sopram notas melodiosas, sinos ecoam pelo abismo de paredes ressonantes. Gritos repetidos e esquecidos nas teias do Tempo. Ao clamarmos: Vida! Invocamos a Morte pelo ciclo da renovação. Um mundo refletido pela Íris iluminada por uma trêmula chama de uma fina vela sobre um fio de seda que uni os dois lados do abismo: a vida e a morte. Que lágrimas umedeçam as faces, que os gritos arranhem as gargantas, que os punhos cerrados sangrem as palmas, que os joelhos dobrem e que a barragem da alma rache e inunde o abismo até apagar a chama. E ao fantástico mundo traremos fim, quando os olhos infantes cegarem ao passar dos anos. Assim as teias do tempo se tornaram tão concretas quanto as rugas e tão inevitáveis quanto a morte. E digamos: Viva!