segunda-feira, 9 de maio de 2011

Essa Minha Vida


"Shattered by Stephanie Shimerdla"
   Um golpe de sorte patrocinado pelo destino é a vida. Nada menos suspeito e improvável é esse mundo que me cerca, em sua arquitetura tão selvagem e racional. Como um mar que recusa a formar ondas apesar dos ventos que o açoitam, como uma involuntária e indesejada virtude que foi falsificada pelos meus medos, pelas minhas impossibilidades, como uma anomalia santificada escondida por mentiras é a vida. Cada dia é um agonizante arrependimento, onde o firmamento da alma corroída não mais sustenta as lágrimas que vertem do coração. Poderia haver celebração se o desfecho fosse alcançado pelo caminho excelso, mas é no caminho enfermo que repousa as pegadas, e ao chegar ao cimo da graça a lama dos pés suja o salão. Andar na lama, limpar os pés e esconder o tecido sujo: no mundo medíocre haverá estima enquanto os olhos não se encararem. Sossego misericordioso dessa capa abatida, que resguarda tal vexame ambulante, venha impedir que se desfaça em migalhas. Da boca agredida verte sangue e dor, na busca por alento verte desespero e lágrimas. Sentado à porta trancada, ouço clamores de vingança de quem deveria apaziguar e proteger. Abandonado, amedrontado, angustiado, humilhado, revoltado na noite escura berrando por abrigo, apenas para encontrar um vazio decepcionante. Nu e acossado enquanto o fracasso insiste em torna-se espelho e fantasiar maravilhas de sua óbvia pequenez. Mendigando por alguém que se sente ao meu lado, rejeitado e corrompido pelo suborno de uma amizade. Desilusão. Nada do que foi ensinado me tocou com suavidade. Ser o próprio bom exemplo, ser o próprio refúgio da tormenta, ser a própria boca que aconselha, e caminhar contra a dor que flagela a minha alma. O quê esperar da vida? Esperar algo por quê? Uma mão para segurar, um lenço para enxugar minhas lágrimas, um corpo para eu aquecer, olhos que me vejam, ouvidos que me ouçam, alguém para amar e odiar por todo o sempre. Se a felicidade for a solução que tornará insignificante todas as cicatrizes, que lançará espessa névoa sobre um passado alternado entre o vazio e a aflição, digo que a rejeito. Já que são os entulhos degenerados unidos por sangue, fel e lágrimas que edificam essa minha vida, e não posso desejar nenhuma outra, pois do contrário aspiraria à própria morte. O quê perpetra o pulsar desse coração é a consciência de ser melhor do que qualquer um que ousasse tolamente encenar esse meu golpe de sorte.

11 comentários:

  1. Muito bem redigido, legal o texto. É profundo e ao mesmo tempo objetivo, direto. Contraposição de sentimentos e sensações. Bom mesmo. Já estou seguindo.

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  2. Ótimo texto, gostei muito.
    Muito sensível e original.

    Sucesso!!
    Bj
    Pri
    http://www.mmdesaltoalto.blogspot.com

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  3. Intenso , como em todas as postagens , curto muito teu blog !

    www.caixainclinada.blogspot.com

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  4. Gostei, texto muito bem escrito! Beijos


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  5. ótimo seu artigo.. parabéns!!
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  6. Ótimo blog, parabéns viu? Estou seguindo
    Obrigada por seguir o http://textos-e-trechos.blogspot.com/

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  7. O que mais me chamou a atenção foi este trecho "Cada dia é um agonizante arrependimento, onde o firmamento da alma corroída não mais sustenta as lágrimas que vertem do coração" Me fez pensar as diferentes formas que sentimentos assim são encarados e ás vezes terminam de formas horríveis... Mas no seu caso não :)

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  8. Olá Gostei do seu blog tbm siga o http://omediafire.blogspot.com/


    to seguindo vc aqui agora

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  9. E o misterioso continua...

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  10. Ao dormir, ao acordar, ao completar um novo ano, ao enterrar entes familiares, ao se mudar, ao dizer sim, ao dizer não, são mortes que acontecem, onde muitas vezes desconhecemos o ponto certo que inaugurou um novo caminho, uma nova vida. Posso dizer que a morte é apenas o início de uma nova fase. O medo não é da morte. O medo é da mudança. O medo é começar de novo. O medo é desistir, o medo é vencer. A inconstância da vida, seus contratempos, sua forma de agir que nunca obedece nosso desejos. O mal reside em nossa fraqueza de não aceitar a inconstância e as mudanças da existência, ditadas por uma Inteligência Superior, de que não somos capazes de entender, apenas supor por uma lógica sensível e irrevogável. E tudo morre, para começar de novo, num estágio mais avançado. (ao som de A Day In The Life - The Beatles)

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